Quanto custa o meu blogue?
Isabel Zibaia Rafael é autora do blogue Cinco Quartos de Laranja e do livro Cozinha para Dias Felizes. Desenvolve receitas para marcas e colabora com várias revistas portuguesas. A cozinha portuguesa é sempre o seu ponto de partida, mas não esquece as influências de outras cozinhas e de todas suas referências, sejam elas de viagens ou de leituras.
Descobri o mundo dos blogues no Verão de 2005. Criar um blogue era muito fácil, ainda me lembro que se fazia em três passos e não envolvia custos. Ainda hoje esta facilidade é evidente e consequentemente, houve um boom de blogues de todas as mais variadas áreas.
Quando criei, em fevereiro de 2006, o Cinco Quartos de Laranja tinha como objectivo falar de comida, da minha vida à volta da mesa, das minhas viagens, idas a restaurantes, leituras, etc. Tudo aparentemente sem custos, pois seria o relato das minhas experiências.
Investimento #1: Revistas de receitas
À medida que o tempo foi passando rapidamente me apercebi que publicar a comida que fazia em casa não me chegava. Nem sempre o que fazia era suficientemente interessante, na minha opinião, para partilhar com os leitores. Sempre gostei de experimentar coisas diferentes e senti vontade de mudar, de procurar inspirações.
Desde muito nova que me lembro de gostar de ter revistas com receitas, desde a Teleculinária, aos Segredos de Cozinha, passando pela Mulher Moderna na Cozinha, à Saberes & Sabores e hoje em dia, não perco a revista Comer.
Por isso, numa primeira fase comecei a explorar as revistas que tinha, dos recortes de receitas que fui guardando ao longo dos anos. Rapidamente percebi que não chegava e fui à procura do que se faz lá fora. Descobri a BBC Good Food, a Olive, a Saveurs, Jamie Magazine, entre outras, e o dinheiro investido em revistas aumentou substancialmente.
As revistas não explicam ou muitas vezes não satisfazem a vontade de saber e, em 2006, frequentei um curso de iniciação à cozinha a que se seguiram vários cursos e workshops temáticos.
Investimento #2: Livros de cozinha
Desde que comecei o blogue, faço um investimento em livros de cozinha ou de história da alimentação à média de pelo menos, dois por mês. A maioria em língua inglesa, mas procuro também acompanhar todas as novidades de autores portugueses nesta área. Para além dos livros sobre gastronomia adoro ler romances em que a comida é um elemento central. Durante este tempo, o dinheiro investido em livros também não tem parado de aumentar.
Investimento #3: Material fotográfico
Um blogue de comida vive muito da imagem e da qualidade das suas fotografias ou vídeos. A máquina e as lentes que se usam são importantes. E depois descobrimos que precisamos também de um tripé com determinadas características. Nestes últimos anos, o investimento em material fotográfico tem vindo a aumentar. Senti necessidade de fazer um investimento pessoal e frequentei um curso de iniciação à fotografia, apesar de ter a ajuda preciosa do meu marido.
Investimento #4: Utensílios de cozinha
A exigência vai aumentando e quando achamos que determinado aspecto está aparentemente satisfeito surgem logo novas necessidades. Ao longo do tempo fui percebendo que é fundamental ter um conjunto de utensílios como facas, termómetros, panelas com determinadas características que me ajudem a conseguir um desempenho na cozinha mais eficiente.
Descobri um impulso quase incontrolável de comprar adereços para criar cenários à volta da comida. Copos, pratos, guardanapos, talheres de todas as formas e feitios começam a encher as prateleiras dos armários. A que se juntam tábuas, tabuleiros e outros apetrechos. Tudo faz falta para criar uma história à volta de um prato. Aproveita-se a época de saldos, mas mesmo assim, comprar, como é evidente, exige algum dinheiro.
Investimento #5: Formação
Um blogue exige que se escreva. E tal como em outras áreas, a escrita de comida, treina-se. Por isso, frequentei um curso de escrita para viagens e um outro de escrita criativa. Li de uma ponta a outra o livro Will Write for Food de Dianne Jacob. Estou constantemente a procurar saber mais sobre como escrever sobre comida. Como referi, o meu gosto de ler romances que incluam comida, é também uma forma de aprender a escrever sobre sabores e emoções.
Investimento #6: Tempo
Mas o grande investimento é pessoal. Desenvolver receitas exige tempo. Tempo para investigar, tempo para testar, tempo para colocar em prática. E a este tempo, junta-se o tempo de criar a fotografia e de fazer pós-produção. A este tempo ainda se tem que acrescentar o tempo de escrever o apontamento no blogue.
Aquilo que me levou a criar o blogue, é ainda hoje o que me move a publicar todos os dias receitas e histórias à volta da comida. É a paixão pelo mundo dos sabores que me impulsiona a continuar, a procurar fazer mais e melhor. O carinho dos leitores também é fundamental para manter esta paixão e todo o investimento pessoal e monetário que tenho feito.
Quando custa ter um blogue de comida como o Cinco Quartos de Laranja? Passados oito anos, posso dizer, que custa muito!
Isabel Zibaia Rafael, blogger, Cinco Quartos de Laranja
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